Segunda-feira, Dezembro 23, 2024
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TEXTOS DA SEMANA

SOCIEDADE

Quando não caía na farra da sexta-feira à noite, acordava bem cedinho na manhã do sábado, tomava meu banho na ducha que ficava no jardim sem pressa, depois botava minha camiseta, vestia meu calção de cooper e calçava meu tênis, já amaciado das caminhadas na Av. Marechal Catelo Branco, e saía, sorrateiramente, rumo à Praça da Bandeira, à Igreja do Amparo e Shopping da Cidade, sem pressa, degustando a manhã do sábado e da vida. Os magarefes ainda estavam organizando seus boxes e as ‘verdureiras’ armando e arrumando suas bancas para mais um final de semana de labuta. Às vezes, tomava café por lá, às vezes, não. Pegava a Av. Miguel Rosa e ia até à Av. Frei Serafim, onde dobrava bem na quina do Edifício Chagas Rodrigues e pegava o canteiro onde antigamente ficavam as fontes luminosas, onde os meninos de rua banhavam em algazarra. Depois do HGV(Hospital Getúlio Vargas) sentava no primeiro banco que estivesse à sombra para descansar um pouco e apreciar o movimento da cidade no seu principal corredor, sem pressa. Subia até a Igreja São Benedito na Praça da Liberdade onde antigamente funcionava o Colégio São Francisco, e por lá, demorava em colóquios doces e, ao mesmo tempo, ferrenhos com Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, Espírito Santo e Nossa Senhora. Geralmente, escolhia um dos lados para sentar, sempre alternado, para vislumbrar o cotidiano e receber o ventinho frio da manhã no rosto. Amo o ambiente silencioso, a calma dos bancos e a paz na sobriedade dos santos, que ficam nos perscrutando em silêncio. Saía direto pra Banca do Joel, adoro cheiro de papel impresso, lembra-me dos meus livros e dos meus cadernos quando começava o ano estudantil, tudo novinho. Logo depois da Agência Central dos Correios, tinham umas banquinhas de sebo, onde sempre parava e adquiria algum exemplar. Mais à frente, também, tinha uma pastelaria, que ficava ao lado da Lotérica, onde tomava aquele velho caldo de cana com pastel, coxinha ou bomba. De lá, saía para Praça João Luís Ferreira, passava na banca de revista e ficava, sem pressa, sentado nos bancos, olhando o movimento dos hippies fazendo tatuagens e vendendo anéis, pulseiras e colares para os estudantes e, por fim, concluía minha terapia nos bancos da Igreja do Amparo. Este era apenas um dos itinerários que fazia nas minhas sessões terapêuticas no divã dos sábados.

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