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O BONÉ DA SAUDADE

Crônica: Textos da Semana

às 10:30

Foto: Reprodução

A minha família traz uma verve policial por herança no sangue. Meu pai foi policial civil e, por fim, aposentou-se como policial militar. Devido ao hábito de usar o quepe, ao aposentar-se passou a usar o boné, se ia pro mercado sábado cedinho com a mamãe, no seu fusquinha verde oliva, ia de boné; se ia pro seu sitio no povoado Alegria, ia com seu boné; se ia tomar sua cervejinha no bar com os filhos e os amigos, ia com seu boné. Virou marca registrada, é como se fosse um órgão à parte. Viveu assim o resto dos seus dias por aqui. Hoje, adotei o boné para sentí-lo mais perto de mim, além do adereço, adotei, também sua postura e sua amabilidade. Sua humanidade trago em mim. Ele sempre gostou de ajudar aos outros, tinha um sorriso fácil, gostava de caboclo e de mato. Desde muito jovem sempre gostou de criar galinha de raça, passarinho e pescaria. O Zé Mário, vizinho, sempre trazia pinto de raça para ele, ele gostava muito do papai como um pai, mesmo, depois de algum tempo morando distante, nunca deixou de trazer os pintos pro papai. Às vezes até ovos trazia. O papai conservou muito da sua adolescência e da sua juventude. Outra mania que ele trazia era a de comprar bicicleta velha e reformá-la todinha só para tê-las, pois não andava mais. A mamãe, depois de muito insistir e implorar, conseguiu trocar o Fusca verde oliva por um Corsinha branco gelo. Quando ele partiu, a mamãe deu para o Dedezim, meu irmão, pois os dois eram carne e unha. O Dedezim, ainda adolescente, era quem acompanhava o papai para todo lugar, nas pescarias, ele ia; no bar, estavam os dois. Ele na cerveja ou na cana e o Dedezim no pão massa-grossa e no guaraná Bidu Cola. O Cel. Bonfim era o comandante da Polícia Militar do Piauí e ele e o papai foram criados na Piçarra, jogando peteca, pegando passarinho, pescando e banhando de rio. O papai andava com o Dedezim, saíram do Quartel e foram pro bar do Mantica, ao lado do Conj. João Emílio Falcão, que era ponto de encontro dos militares, depois do expediente. Todos fardados, o que, à época, dava cadeia pois, na década de 70 ainda exigiam rigor e respeito na Caserna. O papai saiu bêbado e o Dedezim agarrado à cintura dele para não deixá-lo cair. Quando avistou, de longe, uma viatura vindo em sua direção, empurro o papai para dentro do mato e entrou atrás, para não ser denunciado e preso, mal sabia ele que o Cel. Bonfim jamais ia dar uma cadeia nele. No máximo, uns puxões de orelha.

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