Um ambulante com esquizofrenia e retardo mental moderado, que vendia água e picolé no acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General do Exército de Brasília, acabou sendo preso pelos atos de 8 de janeiro. O caso preocupou defensores públicos, que acabaram conseguindo a liberdade do homem nos últimos dias, mas avaliam que há mais casos como o dele.
“Os profissionais estavam visitando ele, mas perceberam os indícios de transtorno mental. Elaborou-se um pedido de liberdade, dizendo que ele estava nessa situação e que não tinha como ficar preso. É uma pessoa que não tem noção dos próprios atos. E são vários casos de presos que não têm relação direta com os ataques”, comentou um defensor público ouvido pelo Metrópoles, que preferiu não se identificar.
Em contato com a família do ambulante, os parentes informaram que ele vendia água e picolé na Bahia, também em um acampamento de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL). Em janeiro, o rapaz foi levado para Brasília pelos integrantes da manifestação.
“Ele sequer tinha vínculo ideológico com os atos do dia 8. Acredito que algumas pessoas possam ter sido usadas, sendo reunidas. Observamos gente que não tem noção do que é um golpe de Estado, do que se trata o Poder Legislativo, qual o significado do Palácio do Planalto”, comenta o defensor.
O mesmo relato foi ouvido pela reportagem por fontes da Secretaria de Saúde, que fizeram atendimentos aos presos e chegaram a perceber detidos com demência e outras doenças mentais, “para inchar o movimento”. Para o defensor, esses casos fogem da objetividade da prisão.
“Isso revela a preocupação que temos no processo. Está envolvendo gente que não tem nada a ver. Esse preso, só agora colocado em liberdade, é um caso claro. Ele não tinha condições psiquiátricas de ter vínculo político. E também há pessoas presas porque estavam no acampamento, que não estiveram na Praça dos Três Poderes.”
Fonte: Metrópoles