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TEXTOS DA SEMANA

AQUOSO MUNDO

O mundo está se diluindo e as pessoas estão ficando raras. As cidades estão cheias, lotadas de personagens, porém, os seres humanos estão cada dia mais caros. As máscaras são tantas que já não conseguimos falar com a mesma pessoa por duas vezes. Tudo é relativo e toda “verdade” vale. As pessoas se tornaram líquidas e o que as determina são os ambientes, as profissões ou as máscaras. É tudo da lei. Uma geração filha de profissões, pois os pais são o doutor ou doutora, o empresário ou a empresária… Os pais, em carne e osso, já não existem mais, sumiram. As pessoas não se tratam como pessoas carnais, mas como crachás profissionais. Diga-me qual a sua profissão, e eu saberei como tratá-la. Fale-me das suas posses e eu saberei como devo tratá-la. Ainda que só tenha vocação para pedreiro, terá que ser arquiteto, pois dar-te-ei o anel de formatura. Seja médico, ganhe muito dinheiro, e não importa quantos óbitos traz o seu currículo. O importante é ter a grana para comprar sua Hilux no final do mês. Alice, no filme País das Maravilhas, pergunta ao gato, onde aqueles dois caminhos levam. Ela estava numa dicotomia. E o gato pergunta onde ela quer chegar, ela responde que em qualquer lugar e ele diz a ela que pode pegar qualquer caminho, já que não sabe onde quer chegar. As pessoas não sabem dos seus destinos, mas lutam dia e noite pelo intestino. É só descer à deriva. Então, deixa a vida me levar. Os barcos, as pessoas e as velas não têm mas direção. As pessoas estão ocas por dentro de tanto penar e disfarçar mas continuam apostando nas etiquetas caras para aliviar a dor ou as dores do parto. Jamais irão encontrar a paz. A calmaria está lá onde ninguém vai. Se não tiver a sensibilidade de sentar-se num ‘tamborete’, no terreiro ao entardecer, para ouvir o canto cabaré, pode esquecer os divãs e as terapias. Aquilo que se opõe à humildade é queda, ansiedade e depressão. Enquanto não entender que a beleza está no arroz branco, feijão feito no azeite de coco com dois ou três ovos caipiras no azeite de coco, numa casinha de pau a pique, no meio do nada, vai pirar. Entenda que a roupa comprada na prata do camelô também cobre a nudez, brother. Entenda, que a comida feito no fogo do fogareiro à carvão também alimenta, brother. Não entregue e nem troque a sua identidade pessoal por uma profissão qualquer. Apresente-se por seu nome de batismo e não com os quilates de ouro e as pedras preciosas do anel de formatura, seja você “João” ou “João-ninguém”. Contudo, seja você e mande o mundo às favas.

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