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TEXTOS DA SEMANA

SACOS DE FARINHA

Perdoemo-nos, pois somos farinha do mesmo saco. Elevemos a vida acima da barriga e da gula, pois somos uma essência indelével, inerfável e não temporária. Hoje, sou um velho ranzinza, cheio de manias, amontoado de vícios, que vive resmungando pelos cantos da casa, e rabugento, pois foi tudo que, depois de sofrer uma metamorfose ferrenha, sobrou e restou da minha bela juventude bela. Adoro ser eu na peça. Acho-me um cara legal, bacana, coisa e tal. Claro, não pra os outros, porém, para mim. A vida sempre vai nos dar rasteira. Às vezes de onde menos esperávamos vem o que esperávamos de outras pessoas. A vida é interessante e macabra, é simplesmente a vida mostrando seu discurso em linhas tortas e seu percurso incauto. Às vezes as pessoas de onde menos esperávamos nos assustam com certas atitudes a nosso favor. É simplesmente a vida com suas ironias. A vida é sarcástica, feia e bela. Ela sempre nos surpreende para que não possamos entendê-la. Quando pensamos que sabemos de tudo, ela sai de fininho… A vida é sacana e sacanagem. Ela gosta de ser vivida mas nunca de ser entendida. A idade avançada nos permite vivê-la, mas jamais entendê-la. Quando se está tomando intimidade com ela, ela passa a rasteira e o rodo. Ela só funciona dentro do cálice, numa taça de cristal. Se tentarmos pegá-la à mão, ela foge feito azeite por entre os dedos. É como o leite derramado, jamais poderá ser colhido, jamais encontraremos sentido nela, porque não é para ser entendida, mas para ser vivida. Ela vive de quebrar paradigmas. Se ela tivesse lógica, já teríamos manuais de sobrevivência, mas ninguém se atreveu a decifrá-la ao ponto de categorizá-la. E aquele que tentou, fracassou. O vento chega, bagunça a vida e vai, sem ninguém saber sua origem, seu itinerário e seu destino. A vida é vento que viaja voando desvairado.

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