NATUREZA SOU EU
Foto: Clara Magalhaes
Meu escudo são as asas belas da borboleta, meu temperamento é o mesmo, estridente e exuberante, do grilo. Minhas caçadas são ternas e pacientes como as do urubu, que divaga pelas nuvens do céu. Meu golpe de salvação é o rolamento tal qual o do jacaré, que segura a presa, domina a fera, leva para cama e rolamento. Os meus dias são tais quais os do rio, com intempéries, abundância, lágrimas, sorrisos e, às vezes, seca braba. O importante é que os dias, os rios e a vida me ensinaram a sobreviver neste mundo cão em bolinhas de sabão. Tenho aversão, quiçá fobia, às gaiolas, sejam elas de buriti ou de ferro, independente do prisioneiro, maltratam-me. Gosto mesmo é de voar e de ver voar. Sou camaleão, que adora degustar a folha viçosa do feijão novo e de escalar a parte tênue e vacilante das galhas. Às vezes, nem quero ser o pescador, que lança a rede com maestria e dignidade, sobre os lábios do rio, mas de ser o suporte, enquanto canoa, que desliza e avoa. Os sorrisos, à face do meu amigo ou do meu inimigo, são o meu sol. As fazes e as faces da minha lua, verdejam, nas cadeiras da menina brejeira, que passa requebrando e rebolando, abala-me. Adoro perscrutar o mundo. Meu mundo não caiu, por isso, não precisa ter que ter pena de mim. Ainda, que eu caia, levanto. Sou tal qual o pulo dos sapos, pois sendo anfíbio, frequento o mundo humano do material e o divino do imaterial. Trago a beleza do orvalho, que tem por solo a pétala da flor na caatinga. Sendo rio, que vaga, vadia e viaja, vislumbro o sol, mas, também, há pontes pelo caminho, que desbotam a vida. Sou espinho para fura balão de menino fujão. O couro dos meus sapatos, velhos ou antigos, são os pergaminhos que guardam os meus segredos profanos e sagrados.