PASSARIM URBANO
Às vezes, andando pelo comércio, pelas praças e pelos bares da cidade, ouço alguém falando de futebol, o que não deixa de ser empolgante, apesar dos pesares e das máfias que estão tomando de conta dos torneios, porque as pessoas falam do fundo do coração o que sentem pelo seu time. Abandonei o futebol, assim como outros setores da vida urbana porque percebi que por onde passa o bicho homem as coisas tendem a se corromper. Os resultados estão sendo manipulados pelas máfias, pelas quadrilhas e pelas gangues que estão tomando de conta da sociedade em geral. Todos sabemos que o mundo sempre trouxe suas mazelas, mas ultimamente, elas vivem a céu aberto e de cara limpa. Gosto de esquadrinhar os movimentos, o dia a dia e os hábitos das pessoas humildes, pacatas e singelas, pois me trazem uma sensação de conforto e de paz. Parecem viver num mundo à parte. Sabemos que toda decisão tomada nos corredores do poder abala toda pirâmide social. Principalmente a base, que é a mais fragilizada e a mais vulnerável de todas. Hoje, depois de deixar o Bento e a mãe dele nos seus afazeres, fui ao comércio comprar frutas e verduras a pedido dela. Quando vou saindo do comércio para pegar a moto, deparo-me com um pardalzinho que, singelamente, catava os restos de comida à beira do esgoto. Ele, pulando e catando os grãos espalhados pelo chão, não se importou com a minha presença e continuou fazendo sua ceia. Tenho uma admiração por esses caras, pois vivem e sobrevivem no meio urbano de concreto, de asfalto e de ferro, entre pessoas, bicicletas, motos e carros, com a mesma facilidade que seus pares vivem no meio da mata. Em Brasília, quando terminava de almoçar, ficava no lago da agência vendo os pombos conviverem de boa por entre pessoas. Geralmente, eles ficavam perto dos trailers de cachorro quente ou fast-food ou Ifood para catar as migalhas que caíam dos clientes. Alguns, mais audaciosos, chegavam a subir nas mesas para catar o que restava por entre os copos de plástico e as latinhas de refrigerante. Tem também as andorinhas que vivem nas torres das igrejas, mas como os pardais não existe, pois a convivência é mais ombro a ombro. Os caras me encantam e me espantam pela cordialidade com que vivem por entre o mundo frio do homem, bicho bruto, que somos.