Sábado, Setembro 7, 2024
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Teresina

COISAS DE POESIA, POLÍTICA E BOTECO

A Orquestra

A sabedoria e a beleza da mata estão na sonoridade e no silêncio que dela brotam. Saiam do concreto dos shoppings, do calor do asfalto, e passe a desfrutar do canto do mato, das veredas, das tocaias, dos pássaros, das aves, das flores, das cores, da água fria e cristalina do riacho manso que provoca a florzinha à margem. Na mata, tudo é som, canto e também harmonia que só quem ama pode ver. É viver sem agressão para se desfrutar, da melhor forma, os dias. As palhas da palmeira, perfeitamente afinadas pelo calor do sol, no toque das mãos do vento, lembram-me Beethoven quando já estava cego. As cordas da correnteza do córrego são dedilhados pelo lombo das pedras, côncavas e convexas, e o som da cascata causa-me arrepios. O teiú, gordo e belo, que passa em disparada sobre a folha seca do cajueiro, espanta-me em andrajos e arrepios. As formigas, que cortam as folhas verdes para abastecer o celeiro antes da chuva, fazem dos meus ouvidos a acústica das mordidas. A ventania, que vara a mata, provoca o som atiçando os instrumento em cada componente da orquestra. Ao cupim o violino, ao porco o trombone, ao sabiá o clarinete, ao violoncelo o touro. Ao macaco a batuta, ao teatro da floresta o público. À borboleta o balé, ao sapo o refrão, a viola ao urubu, ao couro o papa-capim, o bem-te-vi, o sabiá, o chico-preto e o vim-vim. Ao homem só resta desfrutar deste imenso teatro a céu aberto.

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