SIMPLESMENTE SOFISTICADO
Hoje, para mim, andar de carroça, pescar de anzol e comer manga com sal é simplesmente o máximo. Fazer coisas que têm começo, meio e fim em si mesmas, saber entender as preocupações de cada dia sem devaneios futuros e nem acrobacias e assim aprender que o futuro não passa de imaginação, intuição e ilusão frenéticas e insossas. Bom mesmo é ser só sendo, sem demandas pro amanhã. Saber viver e entender o dia nas horas do dia, as estrelas no brilho da noite e o amanhecer da carne no sorriso da sabedoria do matuto. O caminho deve ser feito na jornada do dia. O dia, nas suas horas e nos seus horários, dever ser o único cavalo a ser montado para se cumprir a jornada. Nada do amanhã, com o amanhã e pro amanhã, pois antes de cumprir o dia de hoje, galopando sobre a sela das ordens do destino, nada do amanhã pode aparecer nos pensamentos paranoicos. Para cada dia seus turnos, para cada turno seus eventos e para cada evento suas delícias ou seus traumas, que são os pratos, com entrada e sobremesa, do dia de cada um. Folgo-me em trazer ao alforge as horas, instantes, minutos, momentos e segundos para consumi-los ao léu. Cansaço é se carregar o calendário às costas sem necessidade. O carro não pode andar à frente dos bois, pois ocorrerá acidente ao longo da estrada. A carroça não pode andar à frente do burro, pois ocorrerá incidentes ao logo do dia. Para cada fruto, seu tempo. Para cada ovo, uma jornada. Jamais siga a multidão, pois sempre vai ao abismo, onde muitos não sabem nem porque vão. Aposente o relógio, com seus ponteiros e seus sinos badalando estressados, e viva de sol no calor, de zênite ao meio-dia, e de luas e estrelas nas noites estreladas e frias. A cobra para rastejar, o homem para andar, os loucos para sonhar, os pássaros para voar e os pensamentos para enganar e perturbar a toada da vida, pois a vida é comer, beber e dançar. Tudo mais é sofreguidão e devaneio à toa. Vaidade das vaidades é o que nos cerca.