DIAS DE GLÓRIA
Os interesses da infância eram o velocípede, o Jeep Bandeirante, o jabuti e, um pouco mais tarde, a Monareta Tigrão, de cor amarela, com banco vermelho e branco esticado, onde passava o dia inteiro brincando rodeando a calçada e no quintal. O jabuti era enorme e me conduzia pelo quintal numa velocidade estonteante e curvas queimando os pés. Íamos ao “Jardim de Infância” aos sete anos de idade. Hoje, as crianças já começam a ser escravizadas aos dois anos e meio de idade, nas creches, que podem ter período integral, entrando pela manhã e só saindo no final da tarde. Já os interesses da adolescência eram comer caju na quinta da dona Rosinha, comer melancia na roça do seu Viana, comer manga e cana-de-açúcar na quinta do seu Zé Luiz, assistir ao Zorro, Tarzan, Batman e Robin, Zé Colmeia, seriado Vila Sésamo, Tom e Jerry, Pica-pau, Sítio do Pica-pau Amarelo, Mulher Maravilha, programa do Chacrinha, pegar com visgo e alçapão e caçar com baladeira e patuá passarim na mata do seu Pinheiro, armar fojo pra pegar preá, pegar marimbondo em caixa de fósforo, jogar peteca, castanha e triângulo, andar com carro de lata no meio das poças d’água da chuva, ir ao parque, cinema e circo, jogar pelada no final da tarde durante a semana, jogar bola na coroa do rio Poti no final de semana… essa, talvez, tenha sido a fase mais bela da minha vida. É, justamente nela em que se encontram as minhas mais belas reminiscências. Na juventude, os interesses e sonhos passaram a ser mais abstratos e futuristas do que aqueles que traziam o sabor do cotidiano e da rotina no dia a dia. As sessões da tarde na televisão foram ficando para trás e vieram as danceterias, foram-se as peladas no campim da esquina e vieram os torneios e campeonatos pelos clubes da cidade, vieram as missas no final de semana com os amigos e meninas da rua, vieram os primeiros olhares, os primeiros beijos e o primeiro namoro nos festejos do bairro no mês de agosto. Os assuntos, na roda de amigos, agora, eram a cachaça e o futebol do final de semana, os estudos preparatórios pro vestibular e os namoros no escurinho do cinema, no parque de diversão, no circo que se instalava no bairro, na discoteca… naqueles dias de vidinha pacata numa convivência entre mim, a mamãe e o papai, onde passei, talvez, os melhores dias da minha vida.