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Pesquisadora é alvo de ataques de ódio após defender dissertação de mestrado na Ufpi

Mestra em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Piauí (Ufpi), Luara Dias Silva vem recebendo ataques de ódio em suas redes sociais desde a última segunda-feira (3) por conta da pesquisa desenvolvida por ela no programa de pós-graduação: “Sapatonas Caminhoneiras Negras e o Mercado de Trabalho como um Desafio”. 

Foto: Reprodução

Ao Cidadeverde.com, Luara Dias explicou que uma página no Instagram incitou seus seguidores após replicar o convite para a sua banca de defesa da dissertação de mestrado. Segundo ela, as mensagens com xingamentos começaram a chegar no seu celular logo depois que a banca examinadora aprovou sua pesquisa. 

“Algumas pessoas foram no meu perfil pessoal e o restante ficou xingando na postagem desta página. Foram dois anos e meio desgastantes, tanto tempo fazendo um trabalho e quando estou curtindo a felicidade de finalmente ser mestra, recebi esse monte de mensagens com ofensas”, lamentou Luara Dias. 

A banca examinadora do trabalho de mestrado foi presidida pela professoras Elaine Ferreira do Nascimento, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e contou com a participação das docentes Olívia Cristina Perez, da Ufpi, e Ana Cristina Conceição Santos, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Vítima de ataques semelhantes há anos atrás, Luara Dias diz que não registrou boletim de ocorrência denunciando as mensagens de ódio que recebeu dos seguidores da página. “Não queria me estressar, mas acabei me arrependendo. Como estava comemorando com minha família, eu ia abrindo as mensagens, respondendo e bloqueando”, pontuou. 

Apesar dos ataques, diversas pessoas também deixaram comentários de apoio à pesquisadora. Foi o caso do próprio Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (PPGPP) da Ufpi, que lamentou a “cultura do ódio”. “Toda ignorância é realmente audaciosa, contra ela temos o saber científico”, cita o texto. 

Foto: Reprodução

Contente com o apoio da comunidade acadêmica, Luara Dias entende que a página tentou desinformar a respeito da validade da sua pesquisa. Ela explica que a dissertação buscou justamente dar visibilidade à dificuldade das mulheres negras LGTQIA+ para conseguir acessar o mercado de trabalho formal e direitos básicos de cidadania. 

“Falo das ‘sapatonas negras’. Caminhoneiras não é a profissão, é a performance ‘machuda’. Elas são atravessadas pelo racismo e pela homofobia. Meu trabalho tem cientificidade, falo de pessoas marginalizadas e essa pagina tentou usar a política da repressão para afastar as pessoas da academia, o oposto do que estou fazendo”, afirmou a pós-graduada. 

Foto: Arquivo pessoal

Os ataques, no entanto, não desmotivaram Luara Dias a seguir aprofundando o assunto no mundo acadêmico e para o público em geral. A mestra garante que além de dar publicidade ao tema, através de lives e palestras, pretende prosseguir com a pesquisa no doutorado. 

“Agora mais do que nunca. Tentaram me diminuir, mas me motivaram. A partir do momento que incomoda os racistas e LGBTfóbicos, é o caminho certo. Quando eles se incomodam é porque estamos agindo em busca dos nossos direitos. Se eu já tinha planos de continuar a pesquisa, o que aconteceu me deu muito mais gás para prosseguir”, concluiu a mestra.

Fonte: Cidade Verde

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