SÓ O NECESSÁRIO
Recolho-me durante o dia em andanças pelo pensamento das coisas que fiz e das pessoas que fui nos meus dias do passado. Às vezes, rio, noutras choro. Gosto desta solidão solidária que nasce e renasce nas manhas das manhãs dentro de mim. Este vazio oco, que abarca o meu ser, é de uma concretude incrível e indelével. Os dias, que convivo entre mim e eles são inflamáveis por vezes, noutros inefáveis talvez. Estes dias, que assolam a soberba e que cultivam a humildade são, na verdade, um eterno aprendizado, pois o mundo vive e sobrevive de seduções, de enganos e de ilusões. É duro aprender a dizer “não”, mas são justamente os nãos que nos fazem entender e suportar a caminhada. Aprendi a dizer não. A minha mais nova missão nesta nova versão, enquanto aprendiz de Cristo, é a de viver com o mínimo possível, somente com o estritamente necessário. Aprendi a não encher o prato de excessos. Agora, ponho um pouco de alimento, se caso ainda tiver fome, ponho mais um pouco. Jamais deixar resto de comida sobrando sobre o prato. Aquilo que sobra em minha mesa pode faltar em outra. Por isso, e por muito mais, nada de excesso. Nem no alimento e nem na fala. Somente o estritamente necessário, inflar o peito em arrogância é perder a doçura. Aquele que venceu a si próprio ganhou a mais árdua das batalhas. Aquietar a si próprio é mais difícil do que domar todas as feras. Domar a mente, com todas as suas feras abstratas, é o caminho do sábio. Viver de imagem, de bijuterias e de maquiagem é o descaminho do tolo. O homem sábio já não se inflama com as tolices das crianças barbadas. Andar só o tamanho da caminhada, sem excesso. Dizer somente o tanto necessário da fala, pois tudo que é “bom” engorda e mata.