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TEXTOS DA SEMANA

TORNEI-ME POBRE

Hoje a minha vida, materialmente falando, é limitada, mas não tenho problema nenhum em dizer que sou pobre. Isto até muitas vezes me salva de ser covarde e falso. Hoje os meus amigos são meus amigos, pois nada tenho para ofertar-lhes a não ser um sorriso largo. A pobreza, na realidade, é uma arte. Hoje no mundo dentre tantos ricos e tantos covardes de si mesmos, eu estou à margem. Ser pobre é bom, pois nos isenta de toda e de tanta falsidade. Agora conheço as pessoas como elas são, uma por uma. Hoje a minha música de cabeceira é o “Ébrio”, acho que é de Vivente Celestino, mas não tenho certeza… Ele simplesmente vaticinou o comportamento da humanidade, que se diz civilizada, mas que é medida, pesada e numerada pela prata ou pela pataca. Sou pobre e como pobre vivo em paz, a pobreza é unguento que nos alivia dos abraços traiçoeiros e dos laços, nunca somos requisitados para nada a não ser para ser fazer mudança ou para levar alguém para o hospital na calada da noite. Estou amando ser pobre, e a pobreza me invade, um quase necessitado, pois vivo quase invisível e no anonimato. Chego até a sorrir de certos aconchegos e falsos afagos. Tem pessoas que ontem me abraçavam, viam e diziam: “Tu é o cara!”, mas hoje torcem a cara. Eu, de mim mesmo, rio e vago. A pobreza nos livra de tantas friezas. É bom ser pobre, pois fortalece a alma. Meus amigos são meus amigos, e continuam, minha mulher tem no espírito a pobreza gravada, e eu a amo por ela ser tão simples, tão humilde, e por não se incomodar com as circunstâncias. Poucos andam comigo, mas andam de livre e espontânea vontade. Não tenho nada, mas trago um sorriso largo. Minha mãe dizia: “Meu filho, quem não vive como rico, vive como pobre!”. Acho que ela já vaticinava meu futuro naquela fala.

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