Durante a rotina de trabalho, a recenseadora Jaqueline Lopes se deparou com uma situação incomum na zona rural de Teresina: em um domicílio, a única residente adulta era uma pessoa surda. Para contornar a situação e aplicar o questionário do Censo Demográfico 2022, a trabalhadora colocou em prática conhecimentos básicos que possui sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras). A entrevista ocorreu no dia 04 de outubro, na região do povoado Alegria.
Apenas duas pessoas residem na casa visitada por Jaqueline: a adulta surda e uma criança de seis anos de idade, filha da mulher. Para ser informante do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é necessário que o morador tenha idade mínima de 12 anos.
Jaqueline faz questão de ressaltar que não é intérprete e nem é fluente em Libras, mas fez um curso básico da língua e conseguiu se comunicar com a moradora, que é surda oralizada. “A moça falou que não poderia responder porque era surda, então fiz um sinal pra ela, que compreendeu e disse que poderíamos entrar”, lembra.
“Sempre me interessei por assuntos de inclusão. Eu costumava observar os surdos se comunicando em diversos locais como supermercados, nas ruas, nas paradas de ônibus, etc. E via que nós, como sociedade, tínhamos uma barreira de comunicação muito grande”, comenta a recenseadora.
“A Libras é a segunda língua oficial do país e a maioria da população não tem noção nem do alfabeto básico”, pontua a servidora do IBGE. Ela fez um curso no Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS). “Eu queria ser capaz de me comunicar com essas pessoas caso um dia precisasse, e, de certa forma, quebrar um pouco essa barreira”, afirma.
O Censo Demográfico está em campo desde o dia 1º de agosto e os recenseadores irão visitar todas as residências do país, empenhando esforços para ultrapassar eventuais dificuldades de acesso e de comunicação. No Piauí, mais de 2 milhões de pessoas já foram recenseadas. A operação deve ser finalizada até o início de dezembro.