Será entre outubro e novembro o período no qual quase 100% dos estudantes piauienses de escolas públicas já terão retornado para a sala de aula, conforme a expectativa do secretário de Educação do Piauí, Ellen Gera.
Em Teresina, o secretário municipal da pasta, Nouga Cardoso, marcou a data para o final de setembro.
Ambos os gestores esperam já ter alcançado as condições favoráveis na pandemia de Covid-19 para a retomada, se não com ensino totalmente presencial, mas ao menos híbrido.
Porém, conforme apurou o OitoMeia com professores, alunos e líderes de sindicatos, a lista de desafios a serem superados para a volta as aulas no Piauí ainda é enorme.
PROFESSORES VACINADOS, ESTRUTURA…
O primeiro deles é que parte das classes sindicais firmou posição e disse que só aceitará a retomada completa quando todos os profissionais estiverem com o ciclo de vacinação completo, isto é, que tenham tomado as duas doses da vacina. O que ainda não aconteceu.
A segunda reclamação é que escolas públicas, tanto no interior quanto na capital, enfrentam dificuldades estruturais para se adequar as medidas sanitárias contra a disseminação da Covid-19. “Não adianta você mostrar uma escola modelo e dizer que tem condições para retornar, pois sabemos que nem todas elas são daquela forma”, avaliou uma das fontes ouvidas.
Conforme o que foi relatado, alguns prédios contam com salas minúsculas, que têm pouca ventilação, e sequer pias externas para higienização ou bebedouros adequados para se evitar o vírus. Até mesmo aquelas que apresentam uma boa estrutura enfrentam paradigmas. Em anos anteriores, algumas escolas foram modernizadas, ganharam sistemas de ar-condicionado e tiveram as janelas vedadas. O que antes foi recebido como uma conquista se tornou uma pedra no sapato de diretores que preparam suas unidades para funcionar em meio a pandemia.

DILEMA PARA GESTORES: OS INDICADORES
Do lado de quem gere, a urgência pela volta das aulas perpassa por a precaução com a Covid-19 e o medo do atraso. Ora, seria inconcebível perante a sociedade e a opinião pública um surto do vírus entre crianças e adolescentes em uma eventual retomada precipitada. Por outro lado, eles também estão de olho nos indicadores do estado.
Para Teresina, que alcançou por duas vezes o status de melhor educação pública dentre as capitais brasileiras, a pressão é maior. A cidade chegou a ensaiar uma retomada junto do ensino privado no início do ano, porém, voltou atrás, após pressões da categoria de professores, que reivindicavam vacinação.
O retorno foi remarcado para agosto, e está ocorrendo de maneira escalonada em ensino híbrido. O plano de Nouga Cardoso é que tudo volte a normalidade até o final do ano, podendo os pais escolherem se vão mandar os filhos para a escola ou se vão permanecer no ensino remoto.

MAIS DE 500 MIL ALUNOS PREJUDICADOS
Nos demais municípios do Piauí, a principal preocupação é com a evasão escolar. Segundo a PNAD Contínua de 2019, cerca de 36,3% dos piauienses de 15 a 17 anos estavam atrasados no ano escolar por terem deixado os estudos em algum momento da vida. Como o Censo do IBGE foi suspenso nos dois anos seguintes, não se sabe como está a situação atualmente.
O que foi possível verificar, por meio de um levantamento feito pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI), é que no Piauí, 534.7 mil alunos foram afetados pelo fechamento de escolas durante a pandemia. A maior parte deles ainda está no Ensino Fundamental. Mesmo agindo, parcialmente, as cegas a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) tem realizado ações no sentido de coibir perdas e evitar atrasos, segundo explicou Ellen Gera.
“Hoje a secretária tem o mapa preciso deste déficit de aprendizagem. Inclusive, sabemos qual escola, qual estudante avançou mais. O nosso objetivo é chegar junto da gerência regional, da escola, dar apoio para a rede e permitir que o nosso estudante continue na rede estadual e que ele não abandone o sistema”, adiantou.

“DECISÃO DE GABINETE”: PROFESSORES NÃO CONSULTADOS
Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Piauí (Sinte-PI), Paulina Almeida, a retomada das aulas, que ocorre em modelo híbrido desde 09 de agosto, foi uma “decisão de gabinete”, unilateral. À reportagem, a sindicalista denunciou que a categoria não foi consultada nenhuma vez sobre a situação e classificou o retorno de professores e alunos para as salas de aula como uma “imposição”.
A presidente afirmou que no atual ponto da pandemia o sindicato defende o ensino remoto. Ela acrescentou que a classe conta com a promessa de que até o final deste mês a grande maioria dos profissionais da educação estejam vacinados com as duas doses. Mesmo com a vacinação completa ela ainda citou pontos que, para ela, deixam a reabertura neste momento questionável.
“Se em outubro tiver melhorado a pandemia e nós todos vacinados é outra conjuntura. Porém, também temos que ver a situação das escolas, que a grande maioria é sucateada, não tem pia para lavar as mãos, não tem bebedouro adequado, não tem as condições mínimas para atender os alunos e nós professores […] Tem a questão das duas doses das vacinas. O certo seria que nossos alunos estivessem vacinados. Do que vai adiantar se o profissional tá vacinado e o aluno não está?”, frisou.
O OitoMeia também falou com o diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Teresina (Sindserm), Joaquim Monteiro. Ele pontuou que parte da categoria está em “greve sanitária” e que só descruzará os braços com todos imunizados e com testagem adequada. Uma Assembleia será convocada nos próximos dias para decidir se continuam como estão ou se vão aderir à abertura.

ENQUANTO ISSO, NAS ESCOLAS DA REDE PARTICULAR DE ENSINO
A situação da rede pública é totalmente diferente da vivida por alunos de escolas privadas de Teresina, que já retomaram o ensino presencial. A propósito, em boa parte das escolas particulares em Teresina há turmas funcionando normalmente, as vezes com 15, 20 e até 30 alunos em sala de aula. Mas, vale lembrar, todos de máscara e com protocolos seguidos à risca, como distribuição de álcool.
O OitoMeia apurou junto ao presidente do Sindicato dos Professores e Auxiliares da Administração Escolar (Sinpro), Jurandi Jacy que é verdadeira essa informação: o funcionamento nas escolas particulares está a todo vapor. Segundo ele, a rede privada está mais bem preparada para seguir as medidas sanitárias e alcançou uma incidência do vírus cada vez mais rara. É, de fato, um contraste com a rede pública de ensino.
Com salas de aulas espaçosas e grande áreas comuns, o nicho tem tido facilidade para implementar medidas, como o distanciamento social e o “rodízio” de alunos, em alguns casos, especialmente no ensino médio. Na capital, escolas como o Instituto Dom Barreto têm realizado até mesmo a testagem quinzenal dos profissionais. Uma ação cobrada pelos professores da rede pública, mas que parece distante de acontecer.
A fase é tão otimista na rede particular que o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino (Sinep) pretende solicitar ao Governo do Estado, através da Sesapi e do Comitê de Operações Emergenciais (COE) que a flexibilização seja maior. De acordo com o presidente, Marcelo Siqueira, os estabelecimentos querem suspender a suspensão de aulas por períodos de 15 e 15 dias e até mesmo uma diminuição do afastamento entre as carteiras dos alunos em sala de aula, o que, claro, proporcionaria mais gente numa sala. Segundo ele, ensino infantil e fundamental, em quase todas as escolas, já funciona normalmente desde agosto.

FONTE: OITOMEIA